Oh bela donzela da torre alta, a mais bela não só entre as donzelas, mas entre todas as belezes do mundo. Apaixonei-me pela donzela, de servo tornei-me seu homem, mas continuei servo, e ela, donzela. Ninguém contraria a donzela, mas vinda a noite eu me despeço de seus braços e vou embora da torre trocando palavras até desaparecer.
Como me ama aquela bela donzela, ama também seus pássaros no jardim, as flores em sua janela e os sorrisos em seus quadros. Mas ama a mim acima de tudo, seu fiel servo. A donzela ama seu servo como ama seus pais. Somos felizes, eu e a bela donzela.
Oh graciosa e delicada donzela, suas palavras são como o canto triste da chuva quando molha a grama, seu olhar é como o choro agonizante do bule de chá. Minha donzela, que antes corria pelos jardins e beijava os pássaros, que cantava ao nascer do sol na janela, espiava-me preparando seu café da manhã, agora se ve tomada pelo sono profundo e eterno. Não desperta nem que a toquem, nem que a mãe lhe diga que seu belo príncipe chegará de cavalo e a pedirá em casamento. Por que despertaria se quem a donzela ama não é o príncipe, e sim o servo? Mas não desperta nem que seu amado servo lhe sussurre as palavras mais belas e que lhe beije delicadamente os lábios. Não me deixa triste o sono profundo da donzela, que continua a me amar em seus belos sonhos. Mas como posso saber se dorme feliz? Como posso eu fazê-la feliz sendo apenas um servo?
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