sábado, 15 de dezembro de 2012

O Hobbit


Lindo filme! 

Profecia

"A profecia é água escura e misteriosa, sempre presente.
Normalmente, ela fica submersa em lugar desconhecido. Mas, quando o momento chegar, a água transbordará e, silenciosa, banhará em gelo cada uma de suas células, irá afogá-lo num turbilhão cruel que o fará ofegar. Você se agarra ao respiradouro existente no alto, próximo ao teto, e busca desesperado o puro ar externo. Mas o ar que lhe vem dali é seco e quente, queima a sua garganta. Água e sede, frio e calor: elementos que deviam se opor juntam-se então para tacá-lo simultaneamente.
Tanto espaço neste vasto mundo, mas você não encontra - e bastava apenas um, bem pequeno - nenhum capaz de acomodá-lo. E, quando ansiar por uma voz, ali encontrará apenas o silêncio. Não obstante, quando buscar o silêncio, ali encontrará a voz da profecia sussurrando sem parar. E pode ser que um dia essa voz aperte algo semelhante a um interruptor misterioso, oculto nalgum lugar dentro de sua cabeça;
Sua alma se assemelha a um rio cujas águas a chuva incessante transformou em caudal. A correnteza submergiu e ocultou todas as placas de sinalização terrestre e provavelmente já as carregou para um lugar escuro. Mas a chuva, copiosa, continua a cair sobre o rio. E toda vez que você vir em noticiários tais cenas de inundação, você pensará: Realmente, assim é a minha alma."

Kafka à beira-mar - Haruki Murakami

Tempestade de areia

"Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia, cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue. Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha. As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é você mesmo. Algo que existe em seu íntimo. Portanto, o único recurso que lhe resta é se conformar e corajosamente pôr um pé dentro dela, tapar olhos e ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la passo a passo até emergir do outro lado. É muito provável que lá dentro não haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O que há são apenas grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando vertiginosamente no espaço. Imagine uma tempestade de areia desse jeito.
E você vai atravessá-la, claro. Falo da tempestade. Dessa tempestade violenta, metafísica e simbólica. Metafísica e simbólica, mas ao mesmo tempo cortante como mil navalhas, ela rasga a carne sem piedade. Muita gente verteu sangue dentro dela, e você mesmo verterá o seu. Sangue rubro e morno. E você vai apará-lo com suas próprias mãos em concha. O seu sangue e também o de outras pessoas.
E, quando a tempestade passar, na certa lhe será difícil entender como conseguiu atravessá-la e ainda sobreviver. Aliás, nem saberá com certeza se ela realmente passou. Uma coisa porém é certa: ao emergir do outro lado da tempestade, você já não será o mesmo de quando nela entrou. Exatamente, esse é o sentido da tempestade de areia."

Kafka à beira-mar - Haruki Murakami



Achei brilhante. Não se importem se eu escrever o livro inteiro aqui.